segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Coração Mole

Existe um diário que me fez relembrar a razão de ter começado a escrever diários secretos aos nove anos. Adrian Mole, uma obra dos anos oitenta que um amigo meu me emprestou, e agradeço-lhe todo o prazer que voltei a sentir pela escrita… Coisa que desprezei durante uns meses, nem sei bem ainda porquê, só sei que precisava de uns tempos sem me pronunciar acerca de nada. Hoje muita coisa mudou. Peguei no meu primeiro diário, e ao contrário do que estava expectante, como das outras vezes que o relia, não comecei a rir… Chorei… Não de tristeza, não de alegria, mas talvez de um entre médio que ainda estou por decifrar ou designar. Hoje muita coisa mudou. Algures dentro de mim encontrei uma nova alma, uma nova essência… Pensei que tal se devesse ao sentimento de novo ano, mas não… A solidão ensinou-me a endireitar as costas, e nunca olhar para o chão. Aconteceu o normal, que acontece ao mundo inteiro, amadureci, contudo falo de outro mudança que não apenas o amadurecimento… Tem a ver com a realidade que observei durante um mês, e como é tão estranho pensar que quando comecei a escrever aquele diário aos nove anos, nem sonhasse que um dia iria passar por uma psicose, iria confundir a minha personalidade com nuances de outrem… Personagens, sonhos, pedradas… Ninguém teve culpa, apenas eu… Inevitavelmente teria de tocar nesta temática para encarar a mudança.
O striptese não se baseia apenas na introspecção constante, baseia-se mais ainda no resultado dessa introspecção, e hoje encontrei-me capaz de voltar a escrever, as ideias que estavam completamente baralhadas na minha cabeça, depois de uma quase infinita guerra interior agora agrupam-se em ordem, e assim percebi que nada é infinito, temos poder sobre a mente, sobre o corpo, e sobre aquilo que queremos dizer. O meu medo era não me conseguir voltar a exprimir, ser mal interpretada… Gosto particularmente do poder que um bom livro pode ter sobre nós, não foi Adrian Mole que me fez voltar a escrever, mas sim o génio por detrás dessa personagem, inspiradora Sue Townsend. Agora Adrian já não é dela, é de milhars de leitores, mas principalmente meu. E os cheiros mudaram, a consistência da vida é outra… Continuo dorida, mas já não sinto medo.
Hoje tanta coisa que mudou…
“Separar o trigo do joio”

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